domingo, 21 de novembro de 2010

A JANELA ( Juliana Cominatto )



Ontem, eu não fecharia a janela.
Não que eu olhasse muito para ela, porque me bastava um borrão de canto de olho
para eu saber que ela estava lá, ocupada em mostrar o que se passava no mundo.
Ontem, eu não ousaria fechar a janela.
Talvez por falta de tempo, talvez por medo do escuro ou do silêncio, não sei.
Talvez eu apenas não reparasse nela.

Hoje, porém, é ela que não me deixa fechá-la.
Hoje, ela engoliu as ruas, as pessoas e seus carros barulhentos,
transformou-os em meros granulados planos, sem vida.
Hoje, me entretenho com sua imagem incolor,
com seu chiado letárgico e estridente,
e com sua forma abstrata.

E por mais que eu tente ignorá-la,
ela fica lá, como uma tela sem fundo,
reprisando o mesmo mundo
dia após dia, e noite após noite
me arrancando o sono
e o resto de sanidade.

Ontem, eu não costumava olhar para a janela.
Hoje, é ela que não pára de olhar pra mim

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